Guia Completo de Proteção Passiva Contra Incêndio: Materiais, Equipamentos e Boas Práticas para Execução Segura

1. O Que É Proteção Passiva Contra Incêndio?

Proteção passiva é o conjunto de sistemas que retardam a propagação do fogo e do calor, protegendo estruturas e compartimentações, mesmo quando não há ação humana ou acionamento de dispositivos.

Diferente da proteção ativa (sprinklers, hidrantes, detectores), ela funciona sozinha, desde que aplicada corretamente.

Os três objetivos principais da proteção passiva são:

  1. Manter a resistência estrutural por mais tempo

  2. Evitar a propagação do fogo e da fumaça entre áreas

  3. Garantir tempo para evacuação segura

2. Onde a Proteção Passiva é Obrigatória?

De forma geral, é exigida em:

  • Estruturas metálicas e de concreto expostas (galpões, shoppings, prédios corporativos)

  • Tubulações e shafts que atravessam paredes corta-fogo

  • Salas elétricas e salas de bombas

  • Fachadas ventiladas

  • Áreas com grande fluxo de pessoas

  • Indústrias químicas, petroquímicas, alimentícias e logísticas

Normas envolvidas (as mais usadas):

  • NBR 14432 – Determinação da carga de incêndio

  • NBR 5628 – Resistência ao fogo

  • IT-08, IT-09 e IT-10 – Regras do Corpo de Bombeiros (variando por estado)

  • NBR 16877 – Selagens corta-fogo

  • Documentos de fabricantes

3. Principais Sistemas de Proteção Passiva

3.1 Tinta Intumescente para Estruturas Metálicas

A mais utilizada em obras comerciais e industriais.

Quando exposta ao fogo, ela expande e forma uma camada isolante que impede o aquecimento rápido da estrutura metálica.

Usos comuns:

  • Vigas, pilares e perfis metálicos

  • Estruturas aparentes em galpões

  • Mezaninos e escadas metálicas

Cuidados técnicos:

  • Preparação da superfície com SPPA adequada

  • Medição de espessura úmida (WFT) e seca (DFT)

  • Respeitar temperatura e umidade

  • Escolher a bomba correta para a viscosidade do produto

3.2 Argamassa Projetada

Muito utilizada em obras industriais e estruturas de grande porte.

Vantagens:

  • Altíssima resistência térmica

  • Ideal para grandes áreas

  • Boa produtividade com equipes treinadas

E onde aplicar:

  • Estruturas metálicas

  • Estruturas de concreto

  • Túneis

3.3 Selagens Corta-Fogo

Uma das partes mais críticas — e onde acontecem mais reprovações.

As selagens evitam a propagação de fogo e fumaça por:

  • Passagens de cabos

  • Dutos

  • Tubulação de água/ar condicionado

  • Shafts

  • Junções entre laje e parede

Materiais típicos:

  • Manta elastomérica

  • Traves (batentes) corta-fogo

  • Selante acrílico/intumescente

  • Argamassa spray

3.4 Proteção de Dutos e Cabos

Usando:

  • Mantas com fibras nobres

  • Caixas corta-fogo

  • Revestimentos intumescentes aplicados em dutos metálicos

4. Equipamentos Necessários Para Aplicação Profissional

4.1 Para Tinta Intumescente (Sistema Airless)

  • Bomba Airless profissional (1 a 3 pistões, conforme o produto)

  • Pistolas de alta pressão

  • Mangueiras com pressão adequada

  • Filtros específicos para intumescente

  • Misturadores mecânicos

  • Medidor de espessura úmida (Wet Film Gauge)

  • Medidor de espessura seca (DFT Gauge)

  • EPIs adequados

Ponto crítico:
Tinta intumescente costuma ter alta viscosidade — máquinas fracas simplesmente não suportam.

4.2 Para Argamassa Projetada

  • Misturador Horizontal

  • Bomba de Projeção com Rotor e Estator

  • Compressor de Ar

  • Mangueiras Reforçadas

  • Pistola de Projeção

  • Medidor de espessura (Paquímetro)

4.3 Para Selagens Corta-Fogo

  • Espátulas

  • Aplicadores manuais

  • Pistolas de calafetagem

  • Trenas e gabaritos

  • Lâminas para corte de mantas

  • Aspirador (para preparar a superfície)

5. Os Erros Mais Comuns na Proteção Passiva (E Como Evitar)

Erro 1 — Aplicar sem medir espessura

A maioria das reprovações vem daqui.

Como evitar:
Use WFT e DFT em todas as etapas.

Erro 2 — Máquina errada para o material

A bomba trava, o produto separa, o acabamento fica ruim.

Erro 3 — Ignorar condições climáticas

Umidade alta = intumescente não cura.
Sol forte = seca rápido demais.

Erro 4 — Falta de preparação da superfície

Trincas, ferrugem, sujeira = descolamento.

Erro 5 — Selagens improvisadas

O “dá um jeito” causa reprovação certa.

Erro 6 — Não seguir o laudo do fabricante

Cada produto tem espessuras, tempos e processos específicos.

6. Como Escolher Materiais e Equipamentos Com Segurança

Aqui vai uma regra simples:

1. Veja qual sistema atende a carga de incêndio e a resistência necessária (30, 60, 90 ou 120 min).

2. Use produto homologado e testado.

3. Escolha equipamentos compatíveis com viscosidade e método de aplicação.

4. Certifique-se de que existe suporte técnico real do fabricante.

5. Não improvise — proteção passiva é técnica.

7. Checklist Prático Para Aplicadores e Empresas

Antes da aplicação

  • Superfície preparada

  • Produto dentro do prazo

  • Máquina revisada

  • Condição climática favorável

Durante

  • Medir WFT a cada sessão

  • Movimentação contínua da pistola

  • Velocidade constante

  • Sobreposição adequada

Depois

  • Medir DFT em vários pontos

  • Laudo fotográfico

  • Garantir cura total

  • Limpeza e proteção da área

Conclusão

A proteção passiva não é apenas exigência — é um sistema técnico que precisa de conhecimento, materiais certos e equipamentos adequados. Pequenos erros geram atrasos, reprovações e retrabalhos caros.